Bernardo Mello Franco

Jornalista, assina a coluna Brasília. Na Folha, foi correspondente em Londres e editor interino do 'Painel'.

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O que preocupa Bolsonaro

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Crédito: Joel Silva - 17.ago.2017/Folhapress RIBEIRAO PRETO, SP, BRASIL- 17-08-2017 : Da esquerda para direita o deputado Eduardo Bolsonaro, filho de Jair Bolsonaro, ( CENTRO) e Adilson Barroso ( esquerda), presidentro do partido Patriota, durante palestra no centro de eventos em Ribeirao Preto, interior de Sao Paulo. ( Foto: Joel Silva/Folhapress ) ***PODER *** ( ***EXCLUSIVO FOLHA***)
Deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ), à direita, e o filho, deputado Eduardo Bolsonaro

BRASÍLIA - "Como eu estava solteiro naquela época, esse dinheiro de auxílio-moradia eu usava pra comer gente, tá satisfeita agora ou não? Você tá satisfeita agora?".

As palavras são de Jair Bolsonaro, pré-candidato à Presidência. Ele respondia a uma repórter da Folha que o questionou, de forma educada, sobre o uso de verbas da Câmara.

Não foi a única grosseria da entrevista, concedida na quinta-feira (11). Em outros momentos, o deputado usou palavrões após ouvir perguntas sobre a sua evolução patrimonial.

"Porra, você está enchendo o saco, porra", disse. "Vocês fizeram uma bomba de merda", acrescentou. "Sai fora que vocês não vão ter resposta nenhuma", concluiu.

Nos últimos dias, os repórteres Camila Mattoso, Italo Nogueira e Ranier Bragon mostraram como a família Bolsonaro multiplicou os bens na política -o capitão tem dois filhos deputados e um vereador.

O jornal também revelou que o chefe do clã nunca abriu mão do auxílio-moradia, apesar de ter apartamento próprio em Brasília. Ele ainda deu um cargo de assessora à mulher de seu caseiro em Angra dos Reis.

As reportagens mostraram que Bolsonaro segue o figurino padrão no Congresso: enriqueceu na política e aprendeu os truques para ampliar as vantagens de parlamentar. Isso explica o descontrole do deputado ao se ver sob escrutínio.

Embora esteja no sétimo mandato, o capitão sustenta seu marketing na ideia de que é diferente dos outros políticos. Ele se apresenta como um campeão da ética, imune aos escândalos que atingem os colegas. "Sou o diferente, sou o intruso do poder", repetiu, em vídeo divulgado na quarta-feira.

Esse discurso tem atraído eleitores que podem não concordar com sua pregação radical, mas veem nele uma alternativa à sujeira dos grandes partidos. Se ficar claro que a propaganda era enganosa, a imagem do "Bolsomito" corre o risco de derreter antes do previsto.

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Comentários

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neli faria

15.jan.2018 às 13h05

Nada tão igual quanto os adoradores de Luiz Inaciio e os adoradores desse senhor. Não gosto de gente que não lê livro. Meu menoscabo abissal a ambos e também aos seus adoradores que não pensam.

Paulo Watrin

14.jan.2018 às 20h20

A credibilidade de Bolsonaro derreteu subitamente, parece picolé de criança em dia de sol quente, após a brilhante reportagem da Folha de São Paulo indicadora de fortes indícios de que seu crescimento patrimonial é fruto de ilícitos e falcatruas. Mesmo que Bolsonaro, quando solteiro, usasses o auxilio moradia para comer gente - como disse a repórter da Folha - sua conduta não deixa de ser a de um oportunista cara de pau.

Aldemir Sanches

14.jan.2018 às 18h58

Como assinante há mais de duas décadas é vergonhosa a campanha da Folha em buscar mesquinharias na vida privada de Bolsonaro. Estou decepcionado com a forma como o caso tem sido tratado. O deputado peca pelo descalabro de suas respostas mas se pegarmos o inventário de bens arrolado pelos jornalistas verifica-se que o aumento patrimonial condiz com seus vencimentos de deputado e os de seus filhos, o que é difícil de aceitar é um cuidador do zoológico se tornar empresário do dia para a noite!